
Antes fossem os erros de produtores e roteiristas que tivessem causado a reação desfavorável nos acadêmicos. Lost viveu altos e baixos na segunda temporada e começou a terceira muito abaixo da média, mas a razão de suas não-indicações não se deve à simples questão dos votantes não levarem em consideração o fato do programa voltar a viver grandes momentos no desfecho
desse terceiro ano. O mais provável é que a forma de disputa esteja provocando os tropeços. Para chegar aos cinco indicados de melhor série, os programas inscritos passam por duas fases de corte. Na primeira, dez sobrevivem. Na segunda, chega-se à lista final. Para ter direito a voto, o acadêmico assiste a um episódio de cada uma das séries que ainda estão na disputa. Os dez episódios são exibidos na seqüência, em dois dias. No segundo dia, a ordem sorteada previamente é invertida.
Quem escolhe o episódio de cada programa, são os produtores dela. No caso de Lost, a escolha foi pelo final da temporada, “Through the Looking Glass”. Para nós que acompanhamos o seriado, foi ótimo. Especialmente para quem resistiu (e desviou) dos spoilers e tomou um belo tapa na cara com a revelação do flashback que foi sem nunca ter sido. Mas coloque-se na posição de alguém que vê Lost esporadicamente. Pior ainda, calcule que você tenha sido informado do final, jogando por terra metade do efeito-surpresa. Você não sabe direito quem é aquele cara de olhos esbugalhados, você não aprendeu a amar odiá-lo ou odiar amá-lo. Você não acha nada demais em ver o careca da cicatriz sendo incentivado a levantar de uma cova por um adolescente (que
para nós ainda é criança, até prova em contrário). Talvez nem fique bem claro pra você o porquê do roqueiro-hobitt estar tão determinado a morrer, confiando nos delírios mediúnicos do cara com forte sotaque escocês.
Faltou jogar com o regulamento debaixo do braço. Nem sempre o melhor episódio na opinião dos fãs e de quem está envolvido no projeto é o mais indicado. Não se trata em jogar com três volantes e mandar o futebol-arte pro espaço, apenas de estudar o adversário. Melhor escolha teria sido a de “The Man From Tallahassee”, um episódio centrado em cenas dos dois melhores
atores da trama (com alguns muitos hectares de distância dos demais), com diálogos inteligentes e trama facilmente compreensível por um “leigo”. Além disso, não é um episódio duplo. Para quem gosta da série, quanto mais tempo de duração, melhor. Para quem está sendo submetido a uma maratona televisiva, isso pode causar uma certa impaciência.
Tirando The Sopranos, que por sua história no Emmy está quase acima do bem e do mal, as demais séries indicadas apostaram no que lhes é seguro. House não indicou seu melhor episódio na temporada, mas o escolhido tem começo, meio e fim, deixando claro qual é a de cada personagem (e engana-se feio quem acha que Houset é formulaico como os CSIs da vida só pelo simples fato de só conseguirem descobrir a doença da vez no final do programa). Heroes fez o
costumeiro e jogou seu piloto na disputa. Personagens apresentados com tranqüilidade. Conseguiram a indicação, mesmo o episódio de estréia da série seja bem fraquinho, com direito a efeitos risíveis. Grey’s Anatomy apostou no seu único episódio-estrondo (pra quem vê a série, uma referência ao famoso episódio da bomba, que foi ao ar depois do Superbowl e alavancou
série de vez para o estrelato) bem sucedido, seguindo a fórmula que já vinha dando resultado na “fase eliminatória” do Emmy. O caso de Boston Legal, a grande supresa entre os indicados (em grande parte porque é uma comédia com toques dramáticos, e não o inverso) já é um pouco diferente. O episódio apresentado aos votantes era relacionado aos desdobramentos do furacão
Katrina, falando mais alto ao coração do público americano.
A verdade é que em 2006 Lost tinha de se conformar em ficar fora da lista final, parte em função de seus próprios erros, parte em função de que a maioria de seus concorrentes viviam momentos mais sólidos. Mas em 2007, cabia uma indicação sim. The Sopranos teve uma temporada muito elogiada, mas um pouco ofuscada pelas críticas pesadas ao seu episódio final (pra se ter uma idéia, o site da HBO saiu do ar de tanta gente soltando as feras a respeito disso). De qualquer forma, é a candidata veterana e em despedida, jamais ia ficar de fora. Heroes foi bem regular, amarrou bem a maioria de suas pontas (Lost teve uma estréia muito superior, embora muita gente já tenha esquecido) mas também teve seu final esculhambado. O que não
atrapalhou muito, já que a série é o fenômeno pop do momento (embora na minha opinião não seja para tanto). Completando a lista das mais sólidas, House manteve seu nível, cresceu em audiência e isso a credenciou a uma vaga. Para mim é o programa mais inteligente e estável da TV americana.
Será que Lost deixou a dever aos demais concorrentes? Não precisa ser muito mesquinho para apontar a queda de rendimento de Grey’s Anatomy e a verdadeira despencada de qualidade de 24 Horas, tradicionais rivais de Lost. Das séries estreantes, só mesmo Dexter pode bater no peito e dizer que deixou Lost para trás. Mas essa foi ainda mais esnobada, não tendo nem seu
protagonista, o ótimo Michael C. Hall indicado a melhor ator. Resumo da ópera: Lost tinha sim lugar entre as cinco melhores séries dramáticas da temporada 2006-2007. Mais pelos seus altos, que continuam sendo muito altos. E, claro, descontando os seus baixos, que cada vez assustam mais (que o diga o horroroso flashback de Jack empinando pipa e fazendo tatuagem no Oriente). Talvez o caso tenha sido de pura e simples falta de visão na escolha do episódio mandado ao ringue .
Ao menos os dois maiores merecedores de indicação foram agraciados. Michael Emerson e Terry O’Quinn (esse em escala menor, por seu personagem ter vivido momentos incoerentes ao longo da temporada) estão seguramente entre os cinco profissionais mais brilhantes da TV americana. Foram indicados a coadjuvantes, porque assim foram inscritos. Mas dada sua importância para a
trama, poderiam até brigar por uma vaga entre os protagonistas. Aliás, tirando a inclusão meramente pop de Masi Oka (o simpático e correto, mas nada espetacular Hiro Nakamura de Heroes), a categoria foi a mais bem definida da premiação. Concorrem com eles Michael Imperioli (que pode ser beneficiado por ter sua última chance de voltar a ser premiado pelo seu
Christopher Moltissanti em The Sopranos), T. R. Knight (o George O’Malley de Grey’s Anatomy, que merecia uma nomeação em 2006, mas apareceu mais em páginas de fofoca do que com boas atuações da última temporada do seriado) e William Shatner (o impagável Denny Crane de Boston Legal… que cairia melhor ainda nos indicados a coadjuvante de série cômica, claro). Se ficamos felizes por vermos dois membros do elenco de Lost tendo seus trabalhos reconhecidos e dividindo indicações na mesma categoria, é preocupante que um tire votos do outro na contagem final.
Que vença o melhor. Ou simplesmente Michael Emerson.
Quem ficou de fora mais uma vez foi Matthew Fox, que continua queridinho no Golden Globe, mas já pelo segundo ano foi esquecido pelo Emmy. Sem dúvidas ele faz um bom trabalho, mas seu personagem é um tanto cansativo, ficando difícil para que ele concorra com personagens adorados, todos anti-heróis, vividos por atores de muito mais gabarito: James Gandolfini em The Sopranos, Hugh Laurie em House e James Spader em Boston Legal. A ovelha negra da turma é Denis Leary, o bombeiro de Rescue Me, que, num mundo perfeito, deveria ter dado vaga ao protagonista de Dexter. Sendo assim, não é nenhum absurdo deixar Fox de fora. É inclusive um mérito.
Também em comparação com o Golden Globe, outra bola dentro do Emmy (e que fique claro que eu detesto alguns conservadorismos insistentes da Academia de TV) foi não cair na tentação de indicar Evangeline Lilly, só pra deixar a cerimônia mais bonita. Chamem ela pra apresentar um prêmio e todos nós ficamos contentes. Em compensação, penso que Elizabeth Mitchell tinha vaga entre as atrizes coadjuvantes. Infelizmente acabou atropelada pelas igualmente boas profissionais de Grey’s Anatomy e The Sopranos, que atacaram em grupo, papando 5 dos 6 postos. Também ficou para depois o reconhecimento da inegável melhora do trabalho de Josh Holloway. Mas se o japonês conseguiu, por que não ele?
Comparando com outras séries, Lost teve um desempenho relativamente discreto nas categorias técnicas. Se considerarmos o nível quase cinematográfico do programa, fica a certeza de que merecia mais. De qualquer forma, volta a ser lembrado nas mais importantes, em direção e roteiro. Em direção o páreo é duríssimo, com outros bons trabalhos concorrendo. Em roteiro, os votos dos 3 The Sopranos indicados podem se dividir e o caminho ficar aberto para “Through the Looking Class” sair vencedor. No entanto, se Battlestar Gallactica colocar esse troféu na estante… esqueça o papo do regulamento debaixo do braço. É mesmo uma retumbante implicância dos acadêmicos para com os sobreviventes do vôo 815, brotha. Ou dude, como preferirem.
Faltou reconhecimento para a “inegável melhora do trabalho de Josh Holloway”? Ainda bem que o os votantes resistiram a esta tentação tb, indicando os melhores da série e não se rendendo a um corpinho sarado…
Faltou indicação para Elizabeth Mitchell, essa sim uma grande injustiça. E em vez de Masi Oka poderiam indicar Jack Colemam, que faz o pai da Claire, Mr. H.R.G., outro injustiçado.
Peraí… Desculpe se estiver errado, mas você está falando que Battlestar Galactica não mereceria ganhar esse prêmio? Sou fã de Lost também, mas BSG tem uma história muito mais sólida e um melhor desenvolvimento de personagens. Reconheço que Lost pode ter sido injustiçado, mas a verdadeira “esnobada” ocorre com seriados Sci-Fi, vinda tanto ta crítica quanto da audiência.
Relaxem, Lost é barbada em 2010.
🙂
AP
Rafael, acho que ele quis dizer exatamente isso que vc disse. Séries Sci-fi são sempre ignoradas… e Lost ficou atrás delas. Se Battlestar Galactica ganhar um prêmio, vai ser algo absolutamente fora dos padrões que eles mesmos estabeleceram para a premiação. Pelo menos entendi dessa maneira.
Juliana
Só para esclarecer, era isso que eu queria dizer mesmo: se Battlestar Gallactica é ainda menos lembrada do que Lost, soaria como implicância Through the Looking Glass perder justamente pra BSG. Claro, às vezes uma série não tão boa pode ter um episódio genial e merecer ganhar um prêmio isolado. Mas premiações não costumam ir por esse lado, geralmente distribuem os louros entre umas poucas séries mais queridas pelos votantes.
Eu particularmente não gosto de séries de sci-fi (ao menos das que se passam no espaço), mas não era quanto a isso que eu reclamava de uma hipotética vitória de BSG.
E quanto à opinião da Fabi, cada um com seu cada qual. Eu não vejo nada demais na atuação do pai da Claire. E, por exemplo, aquela cena do Josh Holloway onde o Sawyer mata… o Sawyer, pra mim foi melhor do que qualquer cena de qualquer membro do elenco de Heroes. Mas gosto é gosto, respeito sua opinião.
Além de Michael Emerson, Terry O’Quinn, Elizabeth Mitchell e Matthew Fox, ainda existem atores muito melhores que o Holloway em Lost, como o Naveen Andrews e a Yunjin Kim. Mas eu não tenho culpa se eles são constantemente mal aproveitados. O Sawyer tem mais destaque, conseqüentemente mais chances do ator mostrar serviço.
Aliás, esqueci dele na hora de redigir o texto, mas um bom nome pra fechar a lista no lugar do Masi Oka seria o Sam Neill, de The Tudors.
Mas é aquela coisa, se a lista tivesse os usuais cinco nomes em vez de seis, não geraria lá muita discussão. Exceção apenas aos fãs de Heroes, que se apaixonaram perdidamente pelo japinha.
Eu por exemplo prefiro o Ando ao Hiro 😛
Obrigado a todos por terem a paciência de ler o enorme texto e agora lerem também essa enorme resposta.
Pessoal,
Aprovei os últimos comentários enviados e não sei pq diabos eles não estão aparecendo aqui. Aparentemente o blogger não publicou! Peço desculpas e se quiserem enviar novamente… agradeceríamos!
*desconsiderem o pedido caso o blogger publique com atraso os comentários.
Catei no backup! o/
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Por Rafael:
No entanto, chega uma hora que se deve dar o merecido reconhecimento, por merecimento e pressão do público, sendo um exemplo o Retorno do Rei, que levou 11 Oscars de uma só vez. Talvez o filme não recebesse tantos, mas muita injustiça foi feita com os outros dois.
Torço por uma disputa saudável entre BSG, Lost e outros seriados, mas não espero grandes surpresas.
Por Rafael:
Não acho que Lost tenha ficado atrás de séries sci-fi, já que elas contam com apenas um representante. Acho que mais uma vez reconheceram o talento de Ron Moore, que participou de uma das versões de Star Trek, chegando a ganhar um Emmy por melhor série dramática. O padrão dessas premiações, incluindo o Oscar, é ignorar produções como BSG e Lost e voltar sua atenção para aquelas que caem em um gosto mais geral.
Essas discriminações da academia realmente existem e deixa esses premios sempre um pouco desacreditados.
mas coisas precisam ser claras, Michael Emerson é disparado o favorito a esse premio!!
na minha opnião se ele não ganhar invalida todo or estante da premiação!
outra coisa q nunca ouço falar é sobre a serie Prison Break!?!
pq ninguem comenta sobre essa fantastica serie? na minha modesta opnião ela só perde pra Lost, ou seja, vence de todos os mortais!
minha indignação realmente é com o estardalhaço q fazem com Heroes…. os atores de heroes chegaram a ter episodios q deram pena. O q é peter petrelli?? se não fosse pela claire já teriamos desistido de ver a serie a algum tempo!
voltando a prison break, é uma serie muito bem amarrada, te prende e vc realmente fica doido pra ver o ep. seguinte! alem de termos grandes atuações lá tb, como o Vilão maior T-Bag e o federal q agora me fugiu o nome e corre atras dos fugitivos na 2 temporada!
Ficarei na torcida por Lost…. Lost Forever!!!
Ótima análise, Ricardo. Concordo que The Man From Talahasse é mais compreensível ao não-fã do que o Through the Looking Glass.
O desempenho do Josh melhorou muito mesmo mas pra garantir a indicação dele, só mandando o The Brig. O Foxy também melhorou, mas não a ponto de merecer ser indicado. Já a Evi ainda está muito “verde” e o emburrecimento da Kate nas duas últimas temporadas não ajuda.
Sobre a Elizabeth Mitchell. Ela é ótima? É, mas dificilmente vai faturar indicação enquanto o critério for esse de ver apenas um episódio da série. Quem vê a Juliet fazendo “cara de nada” só uma vez jamais vai entender a complexidade da personagem e o trabalho da atriz.
A indicação de Heroes prova que muitas vezes mais vale o hype do que o talento. Meu consolo vai ser ver a série ser massacrada em todas as categorias.
Em BSG a questão se complica: não é um grande hit, tem fama de série-de-nerd e é sci-fi. Tudo joga contra. Quem vê diz que é ótima. Talvez seja a “síndrome de Alias” (excepcional em suas duas primeiras temporadas, mas pouco vista)
Quanto a Grey’s, eu sou suspeita: amo a série e o T.R Knight foi brilhante no episódio em que o pai do O’Malley morre. Mas não chega ao pés do nosso Ben. A temporada no Seattle Grace não foi tão boa quanto a anterior (0 mesmo vale pra House, que anda com roteiros fracos), mas se for pra tirar o prêmio de Heroes, tá valendo 🙂
Parabéns pelo texto Ricardo! Que boa surpresa visitar o Dude! depois de um longo tempo e poder ler uma análise tão bem elaborada e inteligente!
Espero sinceramente que esta disputa com o Terry não prejudique o Michael Emerson… o Emmy do Mchael Emerson será, na minha modesta opinião, disparado o mais merecido de toda a lista de indicados.
Também concordo que “The Man from Tallahassee” deveria ser o episódio indicado… os diálogos foram sensacionais… e os dois melhores atores da série contracenando é garantia de espetáculo… aliás, novamente na minha modesta opinião, os três melhores episódios desta temporada foram os que tiveram Ben x Locke:o já citado acima, “The Man Behind the Curtain” e “The Brig”.
A esnobada que deram em Dexter (minha terceira série favorita, logo após Lost e BSG) é imperdoável.
No mais, estou torcendo enlouquecidamente pelo segundo Emmy do Michael Emerson, que está simplesmente perfeito, e deveria também ganhar um prêmio por salvar a série na segunda temporada!